Os recente episódios de violência urbana, mostra de
forma clara e inequívoca que se existe uma variável social em nossa
cidade que cresce sem parar. Durante um programa de rádio policial na última segunda-feira (03), o apresentador dizia ;" As ocorrências policiais foram tantas durante o fim de semana, que precisaríamos de um dia inteiro para falar aqui."
Todos que se
arriscam a dissecar a matéria, certamente, encontrarão várias razões
para justificar tal fato. Fatores econômicos, sociais, culturais e de
outras ordens, quando analisados dariam laudas e laudas de textos que
não caberiam num espaço de leitura objetiva como é característico do
universo dos blogs policiais locais.
Nesta oportunidade, gostaria de me ater a um dos
fatores que entendo ser um dos responsáveis por esta crescente onda de
criminalidade em nossa região. A questão do modelo de desenvolvimento
adotado que divide a cidade em “ centro e periferia”. Evidente que não é
uma característica apenas de nossa cidade, mas aqui esta dicotomia se
acentua de uma forma muito evidente. Um núcleo urbano no centro,
asfaltado, com infra-estrutura, investimentos em alguns equipamentos
urbanos, habitados pelas pessoas de maior renda. Do outro lado, uma
região periférica, sem políticas públicas adequadas, ocupações
irregulares, às vezes, estimuladas por políticos populistas, e um
contingente populacional de menor renda, uma parte subempregada e outra
desempregada que acaba virando massa de manobra no jogo político. Numa
cidade como a nossa, onde jorram fabulosos recursos, cuja destinação principal é desconhecida, este “plus” orçamentário deveria ser investido
prioritariamente nas periferias para que houvesse efetiva redução deste
desequilíbrio econômico e mais justiça social.
Decisões políticas
equivocadas, corrupção galopante e ganância pelo poder fazem com que
estes recursos sejam desviados de sua função, provocando desigualdades
sociais e de oportunidades que levam muitas pessoas que estão no limite
da sobrevivência a buscar caminhos que transgridem a lei e a ordem.
Achar
que apenas o aparato de enfrentamento policial vai resolver esta
questão é um grande erro. Verdadeiros exércitos de reposição são gerados
nesta fábrica de pobreza criada por este modelo. A maioria não é
criminosa por que quer. As pesquisas sérias mostram isso. A falta de
políticas públicas adequadas na educação, saúde, cultura e esporte geram
estes resultados catastróficos que são esfregados “ nas caras de pau “
dos governantes, que sempre, diante de tragédias como esta se apressam
em dizer que vão tomar providências, que com o tempo, percebemos que não
acontecem. Ações pontuais não produzem resultados duradouros. Produzem
apenas “melhorazinhas” que normalmente servem a um objetivo eleitoral de
ocasião.
A solução, na minha humilde opinião, passa por uma
transformação no modelo de gestão pública. Enfrentar a corrupção com uma
ação efetiva de transparência total dos gastos públicos que permita a
fiscalização por parte de toda a sociedade e não apenas a fiscalização
“meia boca” feita pela Câmara. Reduzir o inchaço da máquina que onera o
cofre público com gente que trabalha para políticos e não para a
população. Acabar com a terceirização, empreitagem superfaturada e
aluguéis de imóveis, máquinas e equipamentos fora da realidade de
mercado para atender interesses privados de aliados políticos. A adoção
destas e de outras medidas saneadoras nos permitiria priorizar
investimentos em áreas fundamentais e emancipadoras da cidadania, como
saúde, educação, habitação, saneamento, esportes e meio-ambiente, usando
o critério da necessidade mais premente para que se possa reduzir
gradualmente a distância que envolve o centro e a periferia. Gramsci,
nos meados do século passado já alertava em seus estudos sobre esta
dialética, apontando as suas futuras conseqüências com o crescimento das
cidades.
Respeito outras opiniões, mas não mudar o modelo e combater
a violência urbana com estes métodos e baixos investimentos no cidadão é
“enxugar gelo”.
Anônimos morrem todo dia, meninas e meninos são
jogados covardemente na criminalidade e prostituição, sob o silêncio dos
governantes e de parte da sociedade que se acomoda em suas macias
poltronas na sala de estar.
Quando morre alguém famoso ou vinculado
ao poder político surgem alguns gritos de indignação, mas os ventos da
impunidade e do esquecimento arrancam a nossa esperança de dias melhores
e mais justiça social.
“Não temos nada a perder, exceto tudo.”
Albert Camus